O 1º dia começou com uma espera inútil de 20 minutos, à porta do jornal.
Primeira lição - Einstein estava certo, e a sua teoria da relatividade também, ainda que alguém prove o contrário. A dimensão temporal no jornal, é relativa à vontade do Director.
Passado esse contratempo e ajustados os ponteiros entre o director e o estagiário, era tempo de calçar a manga-de-alpaca e desenvolver as primeiras tarefas. A saber:
- Transcrever o conteúdo de cartas dos leitores
- Pesquisar notícias relevantes num jornal nacional de referência;
- Fazer a pré-revisão de artigos
- Realizar a primeira reportagem
Em relação aos pontos 1 e 2, não à muito a acrescentar; já os pontos seguintes merecem uma atenção especial.
Fazer a revisão dos artigos, é um trabalho grato, porquanto embora a função principal seja encontrar erros e prevenir "gralhas" no texto a imprimir, permite, complementarmente, bons momentos de diversão com algumas das incorrecções encontradas.
Uma das que me apraz fazer referência, foi recolhida na secção desportiva - como não podia deixar de ser - onde o repórter, intencionalmente ou inadvertidamente, citando um dirigente desportivo de um clube de Futebol, escreveu, em vez de "
usucapião" termo jurídico medianamente conhecido, escreveu ele "uso
campeão" - erro compreensível, dado o contexto desportivo...
Já quanto à 1ª Reportagem, não sendo propriamente virgem nessa actividade, foi a primeira vez profissionalmente - pelo que fiquei um pouco apreensivo, para mais porque, desde o momento em que recebi o "convite", até estar de bloco e bic na mão, em frente ao entrevistado, foram apenas 50 segundos e duas portas ao lado.
Fui conduzido até lá, apresentado, e deixado
despernadamente só com o suposto proprietário do Bar onde ocorreu a entrevista, a propósito da recente inauguração do mesmo.
Os primeiros 2 minutos da entrevista foram penosos - o sujeito parecia desconcertado com as perguntas, respondendo "sim", "não sei" e "não", a perguntas simples. Fiquei a pensar se seria de mim; estaria a fazer as perguntas certas, ou seria da outra parte? - e era. Rapidamente me apercebi que o individuo fazia lembrar Ozzie Osbourne, e quando consegui arrancar a este sósia mental do ex-músico Inglês, a história da sua vida, percebi que realmente os dois tinham similaridades.
Tal como o britânico, o entrevistado tinha estado ligado ao mundo da musica e da noite - embora com uma carreira e uma conta bancária menos fulgurante. Ainda assim, segundo ele, durante 20 anos tinha sido DJ e animado Karaokes... o que por ventura lhe queimou o cérebro.
Ora, finda a entrevista, aprovada e publicada no jornal, acontece que, ainda antes de ter o prazer de folhear as paginas e reler o meu próprio trabalho, a primeira pessoa que encontro à porta do jornal, é a "companheira" do dito entrevistado. Eu tinha a encontrada no dia da entrevista, mas não tínhamos trocado muitas palavras, por isso estranhei quando ela se aproximou, mas entendi depressa que vinha ai reclamação...
Parece que ela é que era a proprietária do estabelecimento, não o ex-DJ de miolo mole, como eu tinha sido induzido a pensar, e logicamente, a escrever - afinal, não só ele se identificou como tal, como ela se desinteressou pela entrevista... o que havia eu de pensar?
O pior era que havia para ali outras complicações de família que ela começou a querer contar; aí eu fiz questão de colocar mais lenha na fogueira, e culpar o DJ-barra-karaoqueiro, como de facto; mas ao mesmo tempo, descansei a senhora, prometendo que faríamos uma rectificação na edição seguinte (como veio a acontecer).